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O Halo Casto

CapaArgumento: Rui Zink
Desenho: Luís Louro
Editora: Asa

Depois de A Arte Suprema (1997), com arte de António Jorge Gonçalves, Rui Zink voltou aos quadradinhos para contar a história de O Halo Casto (2000), desta vez acompanhado do experiente Luís Louro (Jim del Monaco, O Corvo). Como isto não pode ser só dizer bem de tudo o que é BD aviso-vos já que não gostei muito de O Halo Casto.
O Halo Casto é composto por 4 histórias, aparentemente distintas, que seguimos ao longo de 14 capítulos. A primeira não é bem BD pois consiste num diálogo e em alguns desenhos dos dois anjos que participam na conversa. Os dois anjos trocam os típicos arcos, e flechas, dos cúpidos por duas semiautomáticas e as restantes histórias parecem ser a consequência desta original troca de utensílios. A seguir a este pequeno prelúdio começa a “verdadeira” BD com uma história de adultério entre uma mulher casada e o melhor amigo do seu marido. Sinceramente achei que era uma história de adultério cheia de clichés e lugares comuns. Não faltam os inevitáveis “Não podemos continuar a ver-nos desta maneira” e a mulher está farta do marido e procura livrar-se dele, sem as inconveniências de uma separação, incitando o amante a ser o seu carrasco. A segunda história começa com duas amigas a assistirem a um concerto e a gabarem os atributos cantor. Uma delas gostaria de conhecer o cantor pessoalmente, e após a amiga lhe garantir que o cantor gostaria dela se a conhecesse, vai tomar medidas extremas para que se conheçam cara a cara. Por último temos a história de três adolescentes que deambulam pelas ruas à procura de uma oportunidade de jogar futebol, enquanto se insultam mutuamente, até que são recrutados para a tropa. A verborreia recheada de palavrões destes três jovens não traz realismo ao diálogo, suponho que fosse essa a intenção de Zink, é simplesmente ridícula. Outro detalhe que não me convenceu é a guerra que se vai instalando na cidade de Lisboa. As pessoas continuam na cidade como se nada fosse, em vez de fugirem continuam a discutir a vida amorosa no meio de tiroteios, e bombardeamentos.
As 4 histórias não têm nada em comum, tirando o facto de veicularem a ideia, velha como o mundo, que talvez haja uma responsabilidade divina para os nossos actos. Talvez por isso não funcionem muito bem juntas, e tivesse sido preferível os autores concentrarem-se numa história em concreto, em vez de contarem 3 histórias simples rapidamente só para servirem o devaneio teológico de Zink…
Se o argumento não me convenceu já não posso dizer o mesmo dos desenhos de Louro. Quem já conhece o traço flexível de Louro não vai ficar desiludido com O Halo Casto pois está lá tudo a que ele já nos habituou. Gosto muito da maneira como Louro desenha Lisboa mas neste cenário de guerra, cheio de detalhes deliciosos, fiquei ainda mais impressionado.
No fundo o argumento ingénuo, e já calejado de tanto uso, de Zink só se salva graças aos desenhos de Louro. Não quero com isto dizer que seja uma BD muito má, mas, na minha opinião, não passa de um álbum mediano…

Ferrão