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Na Conversa com José Carlos Fernandes na 75ª Feira do Livro de Lisboa

Desenho de José Carlos Fernandes
No meu inconsciente, Feira do Livro já é sinónimo de sessão de autógrafos de José Carlos Fernandes. Há 3 anos consecutivos que ao chegar à banca da Devir vejo o José Carlos Fernandes (JCF), e o seu inseparável boné, sentado a uma mesa com todo o material de desenho necessário para me tornar num viciado em BD muito feliz. Os 2 primeiros encontros foram fruto do acaso, mas este ano como não quis que a sorte me pregasse uma rasteira, dirigi-me ao Parque Eduardo VII já a saber que na banca da Devir estaria lá o bem disposto, e genial, autor de boné.
Como já vem sendo hábito a Devir planeou a publicação de um livro de JCF para a altura da Feira do Livro de Lisboa, este ano foi a vez do bizarro: A última obra-prima de Aaron Slobodj. Ainda não me posso pronunciar sobre o conteúdo (sei que é sobre um dos mais brilhante artistas do século XX que se dedicava a destruir as suas obras) mas o formato é muito original. Trata-se de um álbum com o formato tradicional da Devir mas com argolas (tipo caderno), tem uma introdução e mais um anexo no final quase só com texto, mas o corpo central da obra é composto por páginas literalmente cortadas ao meio em que a parte de cima são desenhos e a metade de baixo é texto. À conversa com o autor pude descobrir que esta história já estava pensada há 7 anos e que até no momento de se imprimir a edição espanhola JCF continuou a ter ideias para acrescentar à narrativa. Quanto ao estranho formato do álbum, JCF disse que a ideia surgiu quando viu um catálogo de papel e achou que o formato se adequava à história. Pude também saber que o nome da personagem principal vem de uma personagem recôndita de um filme dos finais dos anos 60.
No decorrer da sessão de autógrafos/conversa JCF avançou que há planos para reunir em álbum as histórias que têm estado a sair na revista C (revista do Centro Comercial Colombo). São histórias com argumento de JCF mas desenhadas por vários artistas, as primeiras foram ilustradas por Miguel Rocha mas também irão ser publicados alguns desenhadores menos conhecidos. Este projecto chama-se Black Box Stories e o primeiro volume deverá sair em 2006. Como se isto não fosse já uma óptima notícia o autor acrescentou que em princípio esta série tem material para serem editados 5 ou 6 volumes.
Em relação à Pior Banda do Mundo pude saber que JCF se encontra neste momento a escrever os argumentos dos volumes 7,8 e 9 (excelente noticia!), e o 5º volume da série será publicado lá mais para o fim do ano (devem aproveitar a boleia do FIBDA). Quanto a uma incursão pelo mercado franco-belga o autor mostrou-se mais reservado pois não quer entrar de cabeça num mercado tão competitivo, referiu que em Espanha é diferente pois tem o apoio da Devir. Pelo que percebi é algo a considerar, mas com uma preparação cuidadosa, para o lançamento da série não passar despercebido no meio de todas as novidades que por lá saem.
A conversa acabou com o estado da BD em Portugal, em como é um meio tão incompreendido entre nós e como disse o autor até quem às vezes quer defender a BD ainda faz pior: “Eu gosto de ler BD para me distrair, etc...”; não pude deixar de rir quando JCF sugeriu que essas pessoas dessem Jimmy Corrigan aos filhos só para ver se eles não iam ficar deprimidos. Além disso, JCF vai às escolas da sua zona falar sobre BD e estava escandalizado (e eu com ele) por em duas turmas do 9º ano ninguém ler BD, nem sequer mangas…
Assim se passou mais uma agradável sessão de autógrafos de JCF (que não foi avisado que eu ia escrever sobre o nosso encontro para o blog), e ainda por cima, trouxe para casa mais dois livros autografados pelo melhor autor português de BD.

Desenho de José Carlos Fernandes



Ferrão