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Sin City - O Filme

PosterFinalmente fui ver o filme que aguardava com mais expectativas para este ano cinematográfico. Os comics de Frank Miller introduziram-me ao mundo da BD mais alternativa e com uma temática mais adulta. Foi graças a Sin City que descobri que a BD não era só homens em collants e gauleses doidos.
Aposto que os nossos cinco leitores habituais já sabem qual é a premissa do filme, mas de qualquer maneira, basta saber que se trata de uma cidade impiedosa, sem lei e onde os problemas são resolvidos à lei da bala. As obras que Miller, e Rodriguez, trouxeram para o grande ecrã neste primeiro filme foram: Sin City (agora com a apelidação Hard Good Bye a servir de apêndice), The Big Fat Kill e That Yellow Bastard (tudo disponível em edição portuguesa da Devir).
A pequena introdução, adaptação de The Customer is Always Right (de The Babe Wore Red and Other Stories), leva-nos de imediato para o ambiente negro de Sin City e permite-nos ter uma panorâmica da cidade. E depois, depois é como se os comics ganhassem vida e desfilassem à frente dos olhos do espectador, e isto só é possível devido ao cuidado que foi dado a todos os pormenores.
Visualmente irrepreensível, com uma banda sonora muito boa, este filme está espantoso. O ambiente a preto e branco, os jogos de sombras, os salpicos de cor (acrescentar vermelho à cena inicial com Marv e Goldie foi um toque de génio) e os planos saídos directamente dos quadradinhos dos comics fazem deste filme a melhor adaptação de BD feita até hoje. Está lá tudo: as estradas e os bólides gigantescos, as mulheres assassinas e extremamente sensuais, as paredes de tijolo, os homens impiedosos e violência exacerbada a que Miller nos habituou. Adorei também as pequenas sequências que pareciam desenhos animados, em que só se viam os vultos das personagens imersos num mar de negro, isto resultou particularmente bem na cena final de That Yellow Bastard. Mas não é apenas uma excelente adaptação, é um dos melhores filmes dos últimos tempos.
As histórias são as de Miller sem tirar nem pôr (bom, tiraram alguns detalhes senão não cabia tudo), e estão perfeitamente interligadas, com detalhes deliciosos para o espectador atento, bem ao estilo de Pulp Fiction.
O elenco está mais do que fiel às personagens criadas por Miller, Mickey Rourke não está só a representar, ele é de facto Marv, o brutamontes alucinado preferido de todos os leitores, com a presença física que seria de esperar e com o humor negro psicótico que o caracteriza (quem mais iria esfregar a cara de alguém no asfalto, enquanto conduz, e diria: “I don´t know about you, but I’m Having a ball”). Bruce Willis está perfeito para o papel de polícia correcto à beira da reforma, e Clive Owen acentua o charme, e humor sarcástico, que Dwight tinha nos comics. No entanto, acho duvidosa a escolha de Elijah Wood para o papel de Kevin e falta mais qualquer coisa a Jessica Alba para fazer jus à personagem de Nancy.
Realizado com mestria, e muita imaginação, Sin City é um filme arrojado que homenageia e reinventa os filmes noir. O trabalho fotográfico é de facto o que mais se destaca e o que mais contribui para nos fazer crer que estamos de facto nas ruas do pecado, mas não podemos esquecer que tudo já estava projectado por Miller, desde a violência estilizada aos pensos de Marv. Resta-nos agora esperar ansiosamente pelo segundo e terceiro filme, já que este foi uma experiência vertiginosa.

Ferrão