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Breakfast After Noon

CapaAutor: Andi Watson
Editora: Oni Press

Após ter lido apenas duas BDs de Andi Watson, posso dizer que já se tornou num dos meus autores preferidos, graças à forma original como aborda temas menos comuns no mundo dos comics. Não é nenhuma estrela do mainstream americano mas é bastante conhecido dentro do meio, principalmente devido a Breakfast After Noon, que até foi nomeado para o Eisner de Best Limited Series em 2001. Títulos baseados na vida real, sem qualquer tipo de subterfúgio heróico-fantástico, não são muito comuns no mercado norte-americano, e a julgar por este título é uma pena.
Passado na Grã-Bretanha pós Thatcher, Breakfast After Noon narra as tribulações de um casal numa altura confusa das suas vidas. Rob e Louise vivem juntos, estão a tentar ter um filho, trabalham ambos na fábrica de porcelana local e estão embrenhados nos preparativos do seu casamento, que está para breve. Infelizmente as coisas nem sempre correm como planeado e são ambos despedidos. Assistimos então a duas reacções distintas face ao desemprego: Rob não se conforma e quer recuperar o seu antigo emprego a todo o custo, o que faz com que abandone a ideia de começar tudo de novo; Louise vai à luta e recomeça a estudar graças ao fundo de desemprego. As diferenças de atitude, e a apatia cada vez maior de Rob, marcam o início da ruptura da relação.
Andi Watson brilha por pegar numa situação perfeitamente banal, mas em que captura na perfeição a sua essência e momentos chave. Tendo em conta que é uma BD em que se aborda o desemprego o autor podia cair na tentação de ter um discurso didáctico ou politizado, mas felizmente isso não acontece e o cerne da narrativa é mesmo a deterioração da relação amorosa. Admito que adorei a forma como Watson abordou a relação entre Rob e Louise. Estão lá todos os ingredientes inerentes ao final de uma relação mas Watson não precisa de os evidenciar demasiado, é tudo tratado de forma bastante subtil e até dissimulada.
Andi Watson é também um exímio narrador de banda desenhada. Poucas são as vinhetas desnecessárias e alguns detalhes, que podem parecer inconsequentes, mais tarde têm grandes repercussões na narrativa.
O estilo simples da arte de Andi Watson é bastante original e afasta-se do que a maioria dos leitores estão habituados. Embora o seu traço não seja incrivelmente detalhado, é bastante eficaz na medida em que é muito expressivo. Pode parecer demasiado próximo de um registo utilizado em esboços, mas a boa utilização que Watson faz das sombras, e tons de cinzento, cria um ambiente muito pessoal.
Tal como Le Combat Ordinaire, esta é uma BD que aborda o quotidiano de pessoas comuns, em situações banais. A forma sincera e não romantizada, como é abordada a temática principal, é o que faz desta BD um daqueles títulos que todos deveriam ler (até aqueles que não gostam de histórias ao quadradinhos).