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Blacksad – Alma Vermelha

CapaArgumento: Juan Díaz Canales
Desenho: Juanjo Guarnido
Editora: Asa

Ao terceiro número, Blacksad, é já uma das séries mais mediáticas do mainstream franco-belga. Sumptuosamente ilustrado por Guarnido (antigo colaborador dos estúdios Disney) e com argumentos inspirados nos mais clássicos policiais noir, Blacksad já foi distinguido em Angoulême com o prémio de melhor desenho (para o 2º número) e de melhor série (para este 3º tomo). A dupla de autores espanhola teve uma entrada triunfante no mercado aquando da saída do primeiro tomo, mas desde então as opiniões têm-se dividido entre os fãs incondicionais da série e os que pensam que a série poderia voar ainda mais alto. No entanto, embora rodeado de muitas expectativas, este Alma Vermelha deixou a maioria dos bedéfilos pouco convencidos.
A série passa-se na América dos anos 50 povoada por animais antropomórficos, cuja personalidade é reflexo da raça a que pertencem. Embora o conceito não seja novidade, esta é uma das grandes qualidades de Blacksad, que consegue retratar as complexas relações humanas e políticas, através de animais.
Em Alma Vermelha, o gato detective está em Las Vegas a ganhar dinheiro fácil, trabalhando como guarda-costas de um jogador sortudo. Ao voltar para casa, encontra o seu mentor Otto Lieber, uma sumidade da energia nuclear, precisamente quando as tensões da Guerra Fria estavam no seu apogeu. Otto Lieber, trabalha para Gotfield um milionário que se rodeou das personalidades mais importantes da ciência e das artes (o poeta beatnik Ginsberg está entre eles). Blacksad é forçado a intervir quando um dos membros do grupo é assassinado…
O álbum abre no melhor do registo policial, com Blacksad a narrar as suas peripécias como baby-sitter de ricos. No entanto, a meio do álbum, a narrativa dispersa-se. Díaz Canales quis abordar temas como o nazismo, a caça aos comunistas de McCarthy, a guerra fria e o medo da energia nuclear, mas fê-lo de uma forma muito superficial e demasiado rápida, acabando por não explorar de forma convincente nenhum deles. É pena, pois o argumento fica muito aquém dos volumes anteriores e perde-se um pouco do espírito noir de Blacksad.
Guarnido continua a ser a estrela desta dupla. Os seus desenhos a aguarela são irrepreensíveis, desde a perfeição do traço, à utilização de planos cinematográficos e cores vibrantes, tudo funciona na perfeição. É também notável a expressividade que o desenhador consegue dar aos animais, tornando-os quase humanos, coisa que muitos não conseguem fazer quando desenham pessoas…
É pena que o argumento não esteja à altura do desenho, mas não deixa de ser uma leitura agradável que não irá manchar a reputação desta série acima da média. Talvez não tivesse sido má ideia aumentar o número de páginas ou dividir a história em vários arcos. Esperemos que Díaz Canales esteja mais inspirado quando escrever o argumento do quarto tomo…