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Batman – Cidade Destroçada

Batman - Cidade DestroçadaArgumento: Brian Azarello
Desenho: Eduardo Risso
Editora: Devir (edição portuguesa); DC

Depois de muitos Disney, Hergé e Goscinny, foi graças aos super-heróis que me iniciei no mundo dos comics norte americanos. A grande responsável foi a editora Abril e as suas publicações em pequeno formato e com um preço muito acessível. Embora me tenha afastado do género há muito, guardei sempre uma preferência pelo Batman e pela sua cruzada vingativa nas ruas de Gotham. Além disso, sou um fiel seguidor do título mensal da Vertigo: 100 Bullets. E, como nesta aventura do Batman participa toda a equipa criativa de 100 Bullets (desde Azarello na escrita a Johnson nas capas) a Devir conseguiu vender mais um exemplar.
Nesta história Azarello decidiu privilegiar a faceta investigadora de Batman em vez do seu lado de super-herói. Temos então, na melhor tradição noir, um Batman detective a investigar o assassinato brutal de uma jovem, irmã de um pequeno fora da lei. Como não podia deixar de ser, numa história de detectives, Batman narra constantemente os acontecimentos e os seus pensamentos, o que acaba por afastar ainda mais este título dos cânones tradicionais do género. Além disso, Azarello recorreu a alguns vilões mais esquecidos e deu-lhes uma nova vida: Croc tem uma doença de pele que provoca a parecença com um crocodilo, e Scarface ganha um maior protagonismo graças à sua esquizofrenia exacerbada.
Este caso tem um significado especial para o morcego, pois enquanto persegue Angel Lupo, o irmão da rapariga assassinada, os pais de um rapazinho são baleados à sua frente. Isto reabre velhas feridas e proporciona várias sequências introspectivas sobre o passado de Bruce, que Azarello introduz com mestria nos seus sonhos. Portanto, Batman empenha-se de corpo e alma em descobrir o paradeiro de Angel Lupo, nem que para isso tenha de recorrer à ajuda da corja de Gotham. Ao envolver-se de forma passional o morcego vai muitas vezes ignorar o que está mesmo à frente do seu nariz. Neste processo Azarello descreve um Batman, por vezes, pouco racional e confunde o leitor com falsas pistas. Apesar do grande número de suspeitos envolvidos, no final não sobra nenhuma ponta solta.
Quanto ao desenho, na minha opinião, é o ponto forte deste título graças ao talento de Eduardo Risso. É o seu traço característico que torna Cidade Destroçada muito apelativa para os leitores de 100 Bullets. Parece que transportaram Batman, e a cidade de Gotham, para o universo muito próprio da premiada série da Vertigo. Não faltam as mulheres sedutoras, os bandidos latinos e os que parecem saídos directamente saídos de um qualquer clip de hip-hop, e até os carros europeus de luxo. Para os mais atentos Risso inclui ainda duas referências a 100 Bullets: o agente Graves e Mr Shepeherd. No entanto, em Cidade Destroçada há uma maior utilização de cores escuras, principalmente nas vinhetas referentes a Gotham. Risso retrata assim uma cidade de Gotham com tiques góticos, e incrivelmente obscura, o habitat natural de um homem morcego. Também gostei muito do lado minimalista que a arte de Risso tomou de forma a fazer emergir as personagens do ambiente tenebroso; são notáveis as vinhetas completamente negras, apenas com alguns elementos a aparecerem. Quando Gotham é desenhada desta forma lembra a Sin City de Frank Miller, pois de algumas linhas e grandes blocos negros surge uma cidade.
Embora Azarello nos tenha habituado a bem melhor com a intriga de 100 Bullets, Cidade Destroçada não deixa de ser uma aventura do Batman muito interessante. E se são fãs de 100 Bullets este TPB vale pela arte de Risso (e companhia), pois parece que o morcego anda pelo mundo criado por Azarello e Risso para a Vertigo.