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DMZ Vol. 1: On the ground

Capa DMZ TPBArgumento: Brian Wood
Desenho: Riccardo Burchielli
Editora: DC/Vertigo

Já pouco se fala de ficção científica hoje em dia, “mundo pós-apocalíptico”, “distopia” e “futuro próximo”, são expressões mais pomposas que afastam o estigma de literatura de cordel associado a esta corrente. No entanto, uma parte das séries mainstream de sucesso, publicadas nos USA, são títulos de ficção científica, veja-se Y The Last Man, The Walking Dead e agora DMZ. É certo que não estão presentes humanóides verdes, nem tecnologia altamente avançada, sistemas políticos opressivos e autoritários, mas há uma reestruturação do presente com base no que se poderia tornar o nosso futuro.

Em DMZ, isto passa pela introdução de uma segunda guerra civil americana, disputada em plena Nova Iorque há 5 anos. Uma milícia organizada, os Free States, ocupou os territórios de New Jersey e o que fica para oeste, enquanto que as tropas americanas estão instaladas em Brooklyn, Queens e Long Island. Exactamente entre as duas facções inimigas situa-se a Ilha de Manhattan, uma zona desmilitarizada (a “DMZ”), onde vai aterrar Matty Roth, um estagiário de fotojornalismo. Matty está a acompanhar a primeira equipa que vai fazer uma reportagem em Manhattan depois de ter começado a guerra, quando tudo corre mal e acaba por ficar sozinho em plena “no man’s land”. Matty cresceu nos subúrbios, onde impera a classe média/alta, e viveu uma vida abastada e protegida, a sua preparação para um ambiente hostil é nula o que nos faz ter bastante empatia pela sua personagem. Mesmo achando que, o principal defeito destes primeiros números de DMZ, seja uma caracterização das personagens muito superficial, principalmente no caso de Matty e Zee, a sua guia em Manhattan. Wood preferiu mostrar vários aspectos do quotidiano e da nova organização desta Manhattan em estado de sítio, um pouco como Ellis fez nos números mais tardios de Transmetropolitan, quando Spider Jerusalem pouco mais era do que os olhos do leitor. As ideias de Wood são boas e muito interessantes, mas no final fiquei com a impressão que falta substância a um título que pode ser muito mais.

A arte está dividida entre Wood e Burchielli, um desenhador italiano. Brian Wood trata das capas e das páginas em que são apresentados excertos televisivos da Liberty News, a agência que enviou Matty para o terreno. Nos seus desenhos utiliza o seu já conhecido estilo muito design, o que funciona muito bem para transmitir uma sensação de manipulação mediática no tratamento da informação. O traço de Burchielli é realista e com uma atenção especial aos cenários, que são desenhados meticulosamente, o que contribui em muito para estabelecer o ambiente de guerra urbano numa metrópole como Nova Iorque.

Ao ler estes primeiros cinco números de DMZ fiquei com a ideia que a história fica aquém daquilo que poderia ser. Wood estabelece muito bem o cenário, mas falta conteúdo, apesar de ser possível vislumbrar os caminhos que a narrativa pode tomar. Embora não tenha ficado já completamente rendido a este título acho que o próximo TPB é capaz de mudar isso.

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