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John Constantine - Hellblazer: Todo o seu Engenho

Capa Edição PortuguesaArgumento: Mike Carey
Desenho: Leonardo Manco
Editora: Devir (edição portuguesa), DC/Vertigo

John Constantine foi criado por Alan Moore para satisfazer o desejo dos desenhadores de Swamp Thing de desenharem uma personagem parecida com o Sting. A personagem acabou por ganhar vida prórpia e em 1988 a DC lançou o primeiro número de Hellblazer. Entretanto Hellblazer já passou a marca dos 200 números, é a série mais antiga da Vertigo e até já adaptaram os comics ao grande ecrã no filme Constantine. Foi precisamente para aproveitar a boleia do filme, e cativar novos leitores, que a DC lançou Todo o seu Engenho directamente em paper back e não o incluiu na continuidade da série. Esta estratégia funcionou comigo pois foi a primeira história de Hellblazer que li, embora não tenha visto filme.
Mike Carey (Lucifer) escreveu uma boa história para quem se quer iniciar no universo de Hellblazer e não se quer sentir perdido, não há muitas referências a acontecimentos passados e é fácil perceber quem é quem. Tudo começa quando uma estranha epidemia faz com que várias pessoas entrem em coma sem nenhum motivo aparente. Constantine é chamado para intervir quando a neta de Chas, o seu melhor amigo e motorista, se junta ao rol de pessoas afectadas. A jornada em que Constantine aceita participar para ajudar o amigo está repleta de magia, sangue, ossos, deuses e demónios, e vai levá-lo de Londres até Los Angeles. Onde vai tentar impedir os planos do demónio Beroul que quer tornar a cidade americana na mais recente aquisição do inferno. Mas Beroul está preparado e Constantine vai-se ver obrigado a fazer um pacto com ele para preservar a neta de Chas…
Todo o seu Engenho é mais do que um simples conto de terror pois Carey utiliza habilmente a narrativa para dar uma amostra, aos novos leitores, do passado mais inocente de Constantine que contrasta com a versão adulta bem mais imoral e impiedosa. Além disso, Mike Carey esmerou-se e com o desenrolar da trama tomamos conhecimentos das várias facetas de Constantine, que é capaz de manipular impiedosamente deuses, e demónios, da mesma forma que os seus aliados humanos. Cosntantine é também algo descuidado na forma como aborda os problemas, o que o pode levar a sacrificar vidas acidentalmente para chegar aos resultados esperados. Resumindo, penso que Carey transmite a imagem certa de Constantine: um anti-herói com pouco respeito pelas pessoas e que não se inibe de dizer o que lhe vai na alma (mesmo quando são as maiores barbaridades), mas também um bom amigo que vai tentar ajudar Chas (e o resto da humanidade por arrasto) e com um grande sentido de humor bem cínico (como seria de esperar).
A arte do argentino Leonardo Manco não podia estar mais apropriada para este título. Toda a BD tem um aspecto sombrio, mas Manco desenha as pessoas, e situações mais banais, de forma muito realista o que vai acentuar o choque com as partes mais fantásticas. O talento de Manco para desenhar situações comuns está misturado com uma incrível imaginação visual, de onde saem monstros hediondos, e visões horrendas do inferno, que são genuinamente perturbantes. Trata-se de facto de “arte surpreendentemente visceral” (Devir, 2005) que envolve o leitor ainda mais na história.
Todo o seu Engenho está bem escrito, tem óptimos desenhos, mas não é uma obra-prima da BD. No entanto é um bom ponto de partida para quem se quer iniciar no mundo de Hellblazer e é uma muito boa leitura para quem gosta de histórias deste género. Eu gostei e fiquei com vontade de ler mais aventuras do Constantine.

Ferrão